quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Crise no Egito - Um ditador renitente, uma população descontente e uma oposição complacente.

Tenho acompanhado os últimos acontecimentos no Egito na expectativa do que vai se desenrolar dos processos de mudança de governo que por lá acontecem.

O ditador Hosni Mubarak tem entornado o caldo da revolta da população e oposição, que tem tido uma paciência além do esperado em processos revolucionários. Isso em parte se explica pelos vários anos de ditadura que contribuíram para o enfraquecimento das oposições locais que foram mantidas em banho maria pelo governo, atuando de forma isolada, que ao revés de suas intenções, serviram para dar legitimidade ao regime imposto à população.

Não pude acompanhar o discurso pela TV, mas lendo as notícias que seguiram ao pronunciamento, nada mais podia esperar do que uma pretensa modificação do regime, colocando o vice-presidente daquele país para atuar como a imagem do regime com o ditador agindo nos bastidores.

Não desejo uma transição sangrenta ou que venha a ferir os preceitos que mandam as boas políticas com um processo com lisura e transparência, mas me custa crer que com o atual presidente, o Egito possa ter uma transição realmente democrática.

Uma população descontente e descrente com a política e os movimentos políticos que vêm sendo realizados aliada à capacidade de mobilização que esses já demonstraram ter tem poder para por em xeque toda a estrutura atualmente existente no Egito.
A vontade por um novo modelo de governo que seja, por excelência, democrático é o futuro ideal esperado e que será realizado pelos egípcios.

Traçando um paralelo com a realidade brasileira percebe-se que, muito embora, em nosso país, a atual estrutura democrática proporcione a transição segura e rápida entre os governantes ainda resta um grave problema do país, qual seja, a qualidade de alguns de seus governantes que ainda fazem mal uso da máquina pública desvirtuando os interesses nacionais para os seus interesses particulares lesando a economia nacional e os preceitos republicanos.

A revolução não será televisionada!¹ Em que pese as instituições democráticas encontrarem-se consolidadas é fundamental que as redes sociais sirvam como instrumento de controle institucional e de política de divulgação de desvios de condutas, respeitados os direitos da personalidade, dotando-se de caráter meramente educacional e informativo. Essa é a grande revolução que falta ao Brasil.

Se nos falta a mobilização nacional para protestar contra aumentos abusivos dos parlamentares ou escândalos de corrupção que maculam o país, que pelo menos a internet, como instrumento de contra-informação, tenha serventia na melhoria das instituições e dos valores democráticos que devem a todo custo serem preservados.



¹The Revolution Will Not Be Televised (em português: A revolução não será televisionada) é um poema e uma canção escrita por Gil Scott-Heron comentando a agitação política e social nos Estados Unidos durante as décadas de 60 e 70.